flores na mão, jardim no peito

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o poeta rebelde e apaixonado
caminhando pelas calçadas
com um arranjo de flores nas mãos
para sua namorada.
atormentado, ansioso e impaciente
fitava pétala por pétala
e se embriagava na serenidade
e calmaria novas que ganhava

Sobre Mentiras e Honestidade

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“Todo mundo mente. A única variável é o porquê. É preciso saber mentir para saber quando estão mentindo pra você” (Dr. House, interpretado por Hugh Laurie)

Em minhas sessões de psicoterapia, ainda nas primeiras, meu psicólogo conversava comigo sempre procurando me conhecer o mais profundo possível, traçando meu perfil pessoal e psicológico. Ele sempre se espantava ou se admirava com algo e, a cada algo descoberto, buscava conhecer mais a fundo. Dentro destas situações, ele sempre tinha a curiosidade de conhecer meus conceitos e visões a respeito de determinados temas.

Com isso, comentou: “Rangel, me surpreendo a sua dualidade de ser, com essa sua capacidade entre flutuar de um extremo ao outro. Do amor ao ódio, da admiração ao desprezo, do sentir (seja dor ou amor ou qualquer outra emoção) com tamanha intensidade ao não sentir absolutamente nada”. De fato, isso é um traço peculiar meu até hoje.

Foi nesta conversa, sobre minha dualidade em sentir e viver minhas experiências emocionais, que ele foi percebendo – e se assustando – quanto às coisas que tem capacidade de me impactar. Percebendo a minha sensibilidade em lidar com a vida e com as emoções e relações, viu o quanto sou vulnerável a certas coisas, mesmo que banais. Dentre elas, a mentira. Por mais banal que seja ela, se assustou como uma mentira pueril pode me atingir.

“Por que, Rangel? Por que você permite que algo te atinja assim, dessa forma?”. Tentei lhe estruturar meu conceito da forma mais compreensível e simples possível. “Mentir é uma escolha que você pode não fazer. Em minhas relações com todos, seja quem for, sempre sou honesto e transparente. E sempre espero que também sejam assim comigo. Não suporto, não consigo suportar, a ideia de alguém ter a capacidade e facilidade de mentir e atuar diante de mim, escondendo algo, forjando algo, traindo minha confiança. Não importa se é banalidade ou algo maior. Isso sempre me impactará, porque, querendo ou não, eu sinto as coisas com mais intensidade. Prefiro que me sejam sempre honestos, e eu decidir se a verdade vai doer ou não”.

Já faz alguns anos que essa conversa ocorreu. Até hoje, ela continua. Mentiras continuam me incomodando e machucando. Isso quando eu escolho se machuca ou não. Afinal, como ele percebeu: possuo esta dualidade que me permite transitar entre os opostos.

Diante desse tema, há a canção do Sérgio Sampaio, Essa tal de mentira, que ilustra muito bem as sensações e reações que tenho diante dela. E, com ela, finalizo.

“A dor de ser enganado me rouba, me tira
O chão de baixo dos pés
Fico que nem os papéis
No meio da tempestade com a alma partida
(…)
Eu que em principio acredito em tudo o que me dizem
Basta um olhar mais sincero, um sorriso mais simples
E que em matéria de amor, sou aquele que vive
Na mais completa emoção
O corpo é só coração
Pra de repente acordar como um cego sem guia”

Esquizofrenia

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Comprei umas cervejas e bebi sozinho em meu apartamento.

Já estava levemente alto, passei a dançar sozinho na sala. Fingi que dei uma festa. Que tinha muitos amigos presentes. Que tava lotado. Que você tava aqui dançando comigo, me acompanhando todos os passos (não só os da dança).

Fingi que fui dormir feliz.

Pra mim, já serviu.

Pra sempre Amy

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Hoje, 23 de julho, completou 5 anos que Amy faleceu. Ainda me recordo de quando e como recebi a notícia e de como fiquei colado à tevê acompanhando todos os noticiários na vã esperança de que tudo fosse um equívoco, um engano. Até que a ficha caiu e o impacto foi forte. Fiquei abatido, muito triste. Ela era – e continua sendo – um ícone da minha geração possuidora de músicas vazias e ruins. Amy era um oásis. E continua sendo.

Hoje a trago tatuada ao braço. Suas canções continuam me embalando e me encantando. Sua voz ainda persiste em meu som.

Aproveito essa data para eternizá-la cada vez mais, repostando os poemas que lhe escrevi naquela fatídica data.

1. Diva minha
Sua passagem, Diva minha,
durou tanto quanto
uma canção sua.
Com a mesma perfeição
com a mesma genialidade
com a mesma maravilha
e o mesmo encantamento.
E, neste momento,
é triste demais não poder
repetir esta canção.

 

2. Estrela
Mas é tão triste
uma estrela se apagou
e tudo ficou escuro
ficou a sua sombra
com um brilho obscuro
bombardeada por comparações,
opiniões e frases
cruéis e infames
que não sabem de nada.Mas é tão triste
uma estrela se apagou
ainda era madrugada
e o dia amanheceu
plenamente noite
e à noite será
triste e estranho
mirar e não ver
esta estrela brilhando
mas que eternamente
brilhará.
Mas a minha geração,
já tão ridícula,
perdeu um grande brilho.

 

3. “Casa de vinho”
Eu nunca te vi
nunca pude te encontrar
e tentar conversar
usando línguas diferentes
pra te convidar para uns drinques
um copo de uísque
ou vodka barata
quem sabe uma taça de vinho
e alguns tragos
sob um blues melódico
nostálgico, melancólico
Você foi um relâmpago
um lampejo de genialidade
um cometa que passou e caiu
numa velocidade meteórica
um raio que partiu nossas cabeças
que piravam encantadas te ouvindo.
verdadeiramente um cometa
surgindo inesperadamente
rapidamente riscando o céu
nos apaixonando
e fatalmente caindo, contrariando
os nossos desejos
sem nos permitir
sem me permitir dizer
Good-bye, good-bye

 

 

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